História, Gênero e Religião (Vol. 1)

É difícil definir religião – talvez impossível, se levarmos em conta tanta gente que já tentou fazê-lo sem conseguir dar fim às imprecisões do termo. Por outro lado, por que definir religião se cada pessoa sabe a que está se referindo ao pronunciar essa palavra? Mas muitas vezes essa certeza dura só até nos depararmos com alguma daquelas disputas que nunca faltam ao se tratar de religião: o rótulo de pessoa religiosa é negado a quem o reivindica ou é aplicado a quem não se (re)conhece nele; se discute se essa ou aquela ação da pessoa depende ou não de sua religião ou religiosidade; se as instituições religiosas podem/devem ou não legislar ou opinar sobre isto ou aquilo; se esse ritual ou aquela imagem são o núcleo da religião ou elemento estranho à mesma; se tal fenômeno religioso é autêntico ou é fabricado; se uma religião é mais pura ou pioneira que a outra; se em tal contexto ocorre tolerância ou intolerância, inclusão ou exclusão… e as disputas assim prosseguem até nos fazerem pensar se não é precisamente essa controvérsia o que (in)“define” a religião. De toda a forma, o Simpósio que originou este livro pode ser relevante ao sinalizar em que lugar se situam nos tempos hodiernos a religião e a religiosidade – ao menos no entendimento de quem as estuda (e que por vezes as vivencia). E a julgar pelo conjunto de co-laborações aqui presentes, parece que em inícios do século XXI a religião se concentra no limiar entre o que a une e / ou a separa da esfera política e do espaço público. Quais as (im)precisas fronteiras entre uma religião política e políticas religiosas, afinal?